10 de jul. de 2008

A realidade e o futebol

Uma das atitudes dos governantes que mais irritam e exasperam os contribuintes, pelo menos aqueles conscientes e ainda não amortizados pelas notícias do país que “vai muito bem”, conforme a panacéia brasiliense, é a solução de problemas de caixa do tesouro com aumento de impostos. Ou a criação de novos, para não ter que fazer o esforço de aumentar alíquotas. É sempre assim: quando falta dinheiro para o governo, a primeira idéia “brilhante” que surge na cabeça não menos “brilhante” dos tecnocratas agarrados ao poder é criar um novo imposto. Pensar em criar fórmulas para contornar os problemas, muitas vezes bem simples – como reduzir os gastos, ou melhor, controlar os gastos da máquina administrativa – é complicado. Aliás, como tem sido complicado pensar em quase tudo que não seja uma forma de tirar algum proveito próprio das situações.

E sabem por que essa atitude irrita as pessoas conscientes, os verdadeiros cidadãos? Claro que em primeiro lugar está o fato de meter a mão no bolso de quem já está cansado de pagar imposto numa das cargas tributárias mais altas do mundo e não ver quase nenhum sentido nisso. Não é de hoje que as mazelas sociais desse país estão aí para provar e nem cabe aqui enumerá-las, pois todos as conhecem detalhadamente. E também não é de agora que os governos se sucedem na mesma e repetida reclamação de sempre: Não temos dinheiro para fazer obras, os recursos são escassos para a segurança, será reduzida a verba para a educação e assim por diante numa eterna balela sem fim. E existem até casos mais graves como Alagoas e agora o Rio Grande do Sul onde começa a faltar dinheiro até para o pagamento do funcionalismo. Pelo menos por enquanto – depois de frustrado o pacote fiscal da governadora Yeda antes mesmo de iniciar seu governo – não se ouve falar em elevação de alíquotas ou criação de impostos. Ainda. Mas não vai ser por falta de algum gênio da criatividade...

Outro motivo que geralmente irrita as pessoas, aquelas mais conscientes, repito, é a falta de criatividade absoluta dos dirigentes eleitos ao apelar para tão simplório, óbvio e mesquinho recurso de aumentar os impostos para resolver os problemas de caixa. Mesmo que a ladainha dos políticos, quase sempre a mesma antes das eleições, já tenha enchido a paciência das pessoas e quase ninguém mais acredite no que dizem, alguém acaba sendo eleito num processo de voto obrigatório e pouca consciência política. Além disso, dentro de nossa cultura do “alguém tem que fazer alguma coisa” as pessoas sempre esperam – mesmo não acreditando muito – que surja um político com capacidade suficiente para encaminhar soluções objetivas às questões mais prementes. Na sua passividade clássica, oriunda de nossas origens de pouca disposição para o trabalho e, portanto, para resolver problemas, assim como de esperanças de uma solução divina, as pessoas depositam seus anseios no próximo eleito, que frustra suas expectativas e, assim, a vida continua numa roda viva eterna. A esperança é a última que morre....

Nesse quadro lamentável do cotidiano brasileiro uma das distrações principais da população tem sido o futebol. Mas, por evidente, esse também não pode ser muito diferente da realidade onde está inserido. Assim, os já conhecidos desmandos, perpetuação no poder, aproveitamento político de situações e denúncias de falcatruas as mais diversas, também fazem parte do cotidiano desse esporte, por mais esforços que sejam feitos no sentido de evitar tais problemas. No entanto, diante de uma formatação mundial e até por legislação específica, os clubes vêm adotando ao longo dos tempos uma conduta mais profissional e uma estruturação voltada ao negócio. Em outros países, como na Europa, os clubes são propriedades de investidores que, como tal, pretendem alcançar lucro ao final da temporada. Para isso montam estruturas altamente profissionais, tal qual uma empresa, onde não há espaço para amadorismos e erros. Tudo tem que funcionar perfeitamente conforme o planejado, com despesas e receitas altamente controladas por pessoas competentes e gabaritadas para a função, escolhidas no mercado. Tal ocorre também na parte esportiva, onde sempre são buscados os melhores jogadores, treinadores e assessores.

Infelizmente aqui no Brasil, embora a enorme paixão que representa o futebol, tal atitude não se repete. Se por um lado isso é bom, pois o futebol mexe com a paixão de maneira particular entre nós, por outro permite que os desmandos continuem a existir e a falta de planejamento e o mau uso do esporte ainda sejam práticas comuns. Mas o que mais preocupa é falta de planejamento ou a existência de um planejamento caótico, calcado praticamente na revelação de novos jogadores para vender seus direitos federativos (o antigo passe) aos grandes e ricos clubes europeus. Esse parece ser o grande planejamento estratégico dos clubes brasileiros para salvar suas finanças e encerrar o ano com os balanços num vermelho menos vivo. As explicações para isso são muitas e as motivações também. O futebol é caro, os salários são cada vez mais altos, as despesas com estádios e com impostos também. Isso dificulta a vida dos clubes e seus dirigentes precisam se desdobrar para atender os compromissos.

Porém, tal como os governantes brasileiros, as soluções por eles encontradas, geralmente, são as mais simplórias possíveis. Criatividade na resolução de seus problemas é notada em poucos lugares. E assim, muitos clubes atrasam salários, não recolhem impostos e tocam a roda viva do circulo vicioso. A mesma de sempre de um país acostumado com isso. Acostumado a não buscar soluções diferentes para nada.

Apenas o óbvio.

Lamentável!

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